quarta-feira, 31 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 15


Senhor dos infernos

Meu Deus! Como te amo!
Que blasfémia por ti proferi
Meu Deus! Como te adoro!
E só agora me apercebi…
que só esta loucura me guia
que o meu pensamento explode
e de ti preciso noite e dia
e nem o teu sorriso me acode
Pois és tu Senhor dos Infernos
Dono da perfídia e da maldade
Personificação dos Extremos
Máquina de Iniquidade
Dentro de ti, as correntes pretas
voltejam, como metal,
e minhas feridas são violetas
como os teus olhos,
Príncipe do Mal.

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domingo, 28 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 14


Parabéns hoje aos mortos
na calada da vida
muitas desigualdades
e esperança perdida
Hoje é dia de abortos
vomitamos as almas
para os meninos mortos
uma salva de traumas.




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Comentário: Versão do "Parabéns a Você". Dá para cantar e tudo. Experimentem.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 13


O ÚLTIMO DIA

O dia em que te tiraram de mim
Foi só o princípio do fim
Foi a derrocada louca
Foi o último beijo fatal
Foi Satanás trazendo o mal
E foi também a ventania
Foi o grito ensurdecedor
Foi a minha alma ficar fria
E foi perder-te a ti, amor.


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sábado, 20 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 12


O doce cheiro da morte

O dia em que bebi o teu sangue
soube-me à morte que me corre nas veias
o dia em que pendurei o pássaro na parede
Cristo alado redentor colado pelas asas
O pássaro que o meu gato matou
Ali está o Pássaro frio ensanguentado
o bico fechado, enfim descansado
as garras furiosas e tão frágeis
que não lhe serviram para nada
penduradas imóveis
O cheio a morte empesta na sala
o cheiro do sangue dos passarinhos mortos
empesta a minha vida
persegue-me, este cheiro insuportável
os passarinhos inocentes e humilhados
pelos gatos pretos
O dia em que bebi o teu sangue
Suguei-o da tua boca instável
arranhei-o das veias do teu peito
e cheirava tão bem, o teu sangue,
como cravos de pétalas rubras.
Os cravos do cemitério
que cobrem os passarinhos mortos que cantam
nos ciprestes
entre as campas
cobertas de cravos vermelhos como o teu sangue,
o teu sangue que eu bebi com prazer.


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sexta feira à noite

terça-feira, 16 de julho de 2013

Coração de leão


  
Verão 1999 - 15 de Julho de 2013


Foste brava, porque te quis brava. Só o amor te comoveu. Alma inocente encontraste um lar. O amor transformou a fera num coração doce. Como partiste depressa, coração!
Depois a Pequenina foi-se embora, e o teu maninho fugiu. Mal tivemos tempo para a nossa amizade mas que é isso, o tempo, para quem se ama? Desta vez consola-me apenas que com eles deves estar na fofura de Pequenina e na verdura do maninho. Oh, desejo, desejo, ir aí para o teu lado. Onde o amor me espera. Onde me darão as boas vindas e me perguntarão ‘porque demoraste’?



Máquina Herética: poesia e prosa poética, 11


Quietude

Na minha alma existe o vírus da calma
Existe um eterno estado de insatisfação
Existe ainda um vulcão em repouso
e mais alguns corais e conchas raros
cujas pérolas abrir não ouso.

Existe também a guerra nuclear
E a Inquisição da Idade Média
Existe um Hitler sequioso de matar
Está um mundo preso na minha mão
às ordens da Santa Inquisição.

O Inferno é meu, eu o controlo
O Céu não sei que é, que Deus Existe
E existe também uma Irlanda dividida
em que o Santo Catolicismo resiste
São estas as noções da minha vida.

O Irão é meu, sou Ayatola
Sou Gorbachev Bush Komeni
faço o que quero com as mãos ensanguentadas
presas em relógios de Dali
que batem minhas horas devastadas.

E existe Freud inconsciente
Na psicose louca de demente
que manobra meu Lenin às 5ªs feiras
dia mais longo das semanas inteiras
E dos restos da sanidade do presente.



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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 10


Máquina herética

Vem, doçura dos meus passos
Ao aconchego terno dos meus braços
cheios de tal dor suprema e cansaços
deixa-me prender-te em fortes laços
Mas não me peças que te ame, por favor
de tudo, o que não tenho é o amor!

Porque não sabes como sou eu própria
Sou uma bela máquina de aprender
Aprendi a dançar e a viver
aprendi a beijar, rir e sofrer
Cheia de inteligência me construíram gelada
Edificaram-me estátua mecânica de prazer
Julgaram-me nocturna ao som da alvorada.

Sou eu própria máquina de álcool puro
Sou um copo de veneno destilado
Sou a serpente que te espera em pecado
Para te matar, para te amar em sono escuro
Sou só uma vítima das noites frenéticas
Destilo em mim doces trovas heréticas
Não encontro o pesadelo que procuro.

Oh, amor, para mim és a doçura
que me acalma as tristes noites de terror…
Mas tu não sabes nada do amor
Só sabes que não entendes a loucura
Não sabes se sou anjo se demónio
Nem eu sei se sou possessa ou possuidora
Nem eu sei como ser de ti traidora.

O que vês de mim é a verdade!
Sou máquina correcta de objectividade
Revisto a alma matemática de sinceridade
Sou poeta louca de racionalidade
E se te amo é apenas relativamente
Na minha vida tudo é consciente.
Analiso-te e a mim racionalmente
Os dados que tu lês objectivamente
São os factos verdadeiramente.

Mas existe um caos que não conheço
Não consigo prever os universos
O amor demora mais do que mereço
Da vida só tenho sonos dispersos
Como podes entender o gelo que eu sou
se agora és fogo que arde selvagem
e eu, fria ártica aragem.

Eu sou uma máquina de aprender
Não te esqueças que te digo objectivamente
Os avisos que precisas de saber
Sou sincera e pura e louca e doce
sou a tua irmã, a alma de prazer,
serei aquela que tem sempre os braços certos
Mas nunca tentes saber os meus segredos
a razão de já estar morta sem morrer.

Ah, quem me dera ser insensível!
Ser ainda mais gelo do que sou
ser como tu, segura e invencível!





segunda-feira, 8 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 9


Ouro, jóias, brilho, pedrarias
Pérolas de marfim entrelaçadas
Safiras, águas-marinhas frias
Paixões, infernos, derrocadas.

Tiaras, rubis e esmeraldas
Correntes, coroas e brasões
Arcos, pratas e grinaldas
sonhos, lágrimas, grilhões.

Caravelas, glória e cruzadas
Romanos, sangue, Jesus cristo
Princesas moiras encantadas
Cavalo à solta jamais visto.


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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 8



O ÚLTIMO PATAMAR


I

Daqui não se pode descer mais
Para baixo não existe mais nada
é o ponto de nenhum retorno.
Chegámos às ruas da cidade
onde as luzes não se acendem
nem quando a noite cai escura.
E os fantasmas da sombra ressuscitam,
deambulam solitários na escuridão,
até a luz do sol lhes ferir a vista,
obrigando-os a recolher aos seus túmulos,
nem as criaturas têm descanso.
Segurança não existe no patamar
onde finalmente nos encontramos, aqui,
e daqui para baixo não existe mais nada.
Não há hipótese de queda, aqui nem a gravidade existe,
mas daqui não saímos mais.
Não saímos vivos, nem mortos, nem zombies.
O nosso lugar é aqui, pelo menos não podemos
cair mais.


II
 
Como descrever então este local sem nome
sem nada ao qual compará-lo
só as brumas se assemelham à mente
dias de intenso nevoeiro
com luzes estranhas e incompreensíveis
que se acendem até à loucura
dias estranhos só de cinzento
indescritíveis e incomparáveis,
sem gemido algum,
a angústia que já nem se sente
que possibilidade há em sentir
os pingos de cera que caem
na pedra fria de mármore?
tornam-se pedaços moldados,
frios, duros, sem vida,
pedaços de alma que caem,
perdem o calor e a força
desprendem-se aos poucos do todo
todos eles são tão poucos!
Ignoráveis, removíveis, como nós os condenados
a quem caíram todos os poucos
lentamente perdemos a alma.



III

Pois aqui é o sítio
donde não se pode descer mais
só há escuro, trevas, e não há luz.
Ainda assim vemos tudo tão claro
que só queremos apagar estas luzes
brilham-nos no cérebro até enlouquecer
são um carrossel de verdades,
montanha russa de tragédia,
velocidade, luz e derrota
nos prendem aos grilhões da liberdade
onde nos prendemos e condenámos
Só aqui somos livres
na forma que concebemos liberdade
e porque não estamos sozinhos
tocamo-nos na escuridão
e compartilhamos as nossas luzes
e sofremos todos juntos
em silêncio, para a tortura ser maior
presos no nosso carrossel, presos na nossa liberdade
seguros no sítio onde segurança nunca existiu
onde não podemos cair mais
sem sonhos, sem fé, sem lei
sem degraus mais para baixo.
Abaixo de zero, acima de nós.


4 e 7 outubro 1988

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 7



estratégias

Porque em vez de nos unirmos, eu me afasto
se tudo aponta em nosso favor,
peças do puzzle bem interligadas,
estrategicamente colocadas no espaço,
sem terem lugar no coração.
Nunca fui uma jogadora estratégica,
para mim não há jogos de lógica
tudo se passa emotivamente.
Falta algo que faz deslizar as peças
É lógico que temos o jogo, as regras e o tabuleiro
Mas, se fosse mesmo assim,
amar-te-ia perdidamente.
A lógica não existe, só existimos nós.


6-10-1988