domingo, 27 de janeiro de 2013

Gotika: arquivos Março 2004

março 05, 2004

Comentários 05.02.04 +/- 10h30

Comentario ao SimplistaPrateado Enviado em março 5, 2004 09:34 AM
Toda a gente sabe já, que quem tira História não vai ter qualquer emprego, o mesmo com filosofia, direito, etc. Direito então, que era a vaca sagrada dos paizinhos, deu em dez faculdades em cada canto deste país e de cada vez que se chuta uma pedra, saltam de lá cinco advogados. Toda a gente sabe isto. Que fazer?

O problema que tu ignoras é que nem toda a gente sabe isto. A maioria das pessoas não "sabe isto".

Fecham-se os cursos? Não me parece! Ninguém anda a enganar ninguém! E fechar as universidades não é solução, seria como fechar o exército por não haver guerra. Realismo, pessoal, realismo.

Parece-me a mim. Pelo menos os cursos públicos, para dar um sinal aos privados, porque se o Estado não regulamenta a actividade económica então quem é que a impede de cair no capitalismo selvagem, em que, aliás, já caiu? Ninguém.
E sim, andam a enganar as pessoas. Pega numa brochura de uma universidade privada e depois vem falar comigo.
Fecha-se o exército? Quase. Reduz-se, como se tem vindo a fazer desde a guerra colonial.

Que a coisa custa e doi, disso não há dúvidas, mas o que eu queria ver aqui era uma análise ou proposta do género: ora eu se fosse governo era assim...

Ok, e prometes que votas em mim?
'Tás a brincar, não? Mas eu vou candidatar-me por alguém?... OK, propostas: fechem-se os cursos do público. JÁ! (Agora até vou perder leitores por tua causa, 'tás a ver?)

Nota posterior: Não fechava. Retringia a 10 alunos por curso. Só os melhores. E fazia com que fossem publicadas as médias de todas as escolas secundárias porque algumas fazem "inflacionar" as notas para os meninos entrarem na faculdade. E assim temos médias de 18 e 19, o que, no meu tempo e na minha área, era impensável há 10 anos atrás...

E deixo aqui uma proposta, a via americana, transformar todos as universidades em privadas, com propinas da ordem dos 2.000/3.000 contos ano, só para lá vão os endinheirados, ou os que recorrem aos financiamentos e ficam a pagar o curso o resto da vida, como nós cá pagamos a casa (eles arrendam), ou ainda os muito, muito bons alunos, que conseguem obter uma das milhares de bolsas de estudo dos mecenas privados. É óbvio que o sistema é de funil, de élite, mas conduz a que haja uma enorme carência de especialistas, e os que conseguem passar pelo funil, quando saem da universidade são em regra disputados, bem pagos e com emprego garantido.

Se dizes que é assim, é assim. Eu nunca lá fui nem lá vou (enquanto eles não atinarem). Mas certo e sabido é que uma dessas bolsas em mil era para mim, sim, adoptava esse sistema.
Podia não ser re-eleita, mas uma aposta que o governo a seguir não mudava isso? O que é preciso é coragem para mexer no sistema instituído.

Se há merda que me fode o juízo é o discurso optimista e dourado. Mas se há merda que me revolta os intestinos, é o inverso miserabilista em que é tudo merda, merdoso, merdunça, etc, etc. Bardamerda, são dois opostos idiotas, em que se acaba por não se discutir nada. Da bardoada à vaca sagrada do Mário Soares gostei. Enviado por Calimero em março 5, 2004 09:14 AM

Calimero, acho muito bem que manifestes o teu protesto. Mas não basta dizer o que achas, tens que justificar. Agora dá-me aí um exemplo da grandeza de Portugal, se faz favor...

Gosto de ler comentários furiosos. Porque foi numa fúria que escreveu isto. Infelizmente, não é no café gritando a altos berros que se resolvem os problemas. O povo faz isso costantemente. É procurando trabalhar para impor a nossa forma de estar. Ter um blog ajuda a mudar as coisas? Enviado por Stela em março 5, 2004 09:49 AM

Comentários furiosos? Comentário furioso é o que a senhora me provoca, dona Stela. Aliás, olhe as horas, acho que já está atrasada para o cabeleireiro. Vá, vá depressa, mas não corra que ainda parte uma perna! Tadinha!

Publicado por _gotika_ em 10:31 AM | Comentários: (7)


Fazer figura de merda grande

O que me irrita mais neste país nem é o caso do menino azul, nem os licenciados no desemprego, nem a miséria que alastra pelas ruas na figura dos sem abrigo, nem nada disso. Pior que nós estão os países africanos, dilacerados pela guerra e pela fome e por cabecilhas mafiosos que se alimentam do povo ignorante.
O que me irrita neste país é a mania de fingir que é mais do que é. Desde Cavaco Silva (raios o partam!) que se gerou uma atmosfera de pseudo-optimismo cego que me repugna. Já não se pode dizer que o país está mal. Está mal, mas quem o diz é apedrejado na rua. O país pré-Cavaco era uma merda, mas uma pequena merda. Uma merda insignificante. Agora o país faz parte da Europa, logo, tornou-se numa grande merda. A merda continua a ser insignificante mas inchou de gases e agora faz-se grande.
O país parece aqueles parolos que não têm onde cair mortos mas gostam de fingir que têm dinheiro. Deixam de comer para pagar as prestações do Mercedes. Vão almoçar fora mas em casa comem massa. Vão às feiras comprar imitações de roupas de marca e em casa estão às escuras para não gastar luz. Tomam banho de água fria para poupar no gás. Emprestam dinheiro a quem o pede e depois não têm para eles, só para não mostrar que precisam.
Há uma série inglesa “Keeping up the Appearances”, versão portuguesa “Cuidado com as Aparências”, que revela muito disto. A bimba que lê as revistas e faz tudo para aparecer nas festas, só para ser fotografada por acidente atrás do D. Duarte Pio.
Até me lembra a cena triste do Durão Barroso nas Lajes, junto aos grandes do mundo, Blair e Bush, e outro carapau de corrida, José Aznar, duas pequenas merdas a fazer figura de grande merda. Deus escreve, porém, direito em linhas tortas e o castigo não se fez esperar: “Burroso” escrito na web page da Casa Branca. O destino é eloquente.

Casos como o do menino azul mostram a pequena merda que o país sempre foi. Alguns iluminados acharam por bem vender o país ao estrangeiro. Entre eles Mário Sores, federalista convicto, e até com boas intenções, mas a raça é ruim. Veio dinheiro da Europa, meteu-se nos bolsos de alguns poucos. Não se guardou para o inverno. Não se criou desenvolvimento. Ainda há pouco tempo veio Bruxelas (como se não houvesse gente cá a dizer o mesmo há muito tempo), alertar que o Estado devia investir mais nas pessoas e menos nas estradas. Outros cá o disseram, e em tempo útil, mas o aviso de Bruxelas já vem tarde. E hoje, tal como ontem, ninguém lhe ligou.
Os que meteram o dinheiro ao bolso continuam a sugar até não poderem mais. Os outros estão entretidos a ver a bola. Quando é que começam a pensar na vida? Talvez quando lhes hipotecarem a televisão. Ora bem, esperemos. Cá estarei para me rir.
Afinal, o país anda a fazer figura porque o povo português é vaidoso. Somos uma merda, mas uma grande merda!
Parabéns, Portugal!

Publicado por _gotika_ em 05:04 AM | Comentários: (3)


Comentários 05.02.04 +/- 4h30

Concordo com o simplista prateado, fónix! O que tá mal não é existirem os cursos. O que tá mal é a malta pensar que os cursos servem para arranjar emprego. Esta mentalidade é preciso mudar. Enviado por Yolaró! em março 3, 2004 11:01 PM

Então servem para quê? Para encher o cu de cultura e enfiar o diploma... na parede? Achas que alguém punha os pés na faculdade se não fosse para arranjar um emprego melhor? Talvez meia dúzia de carolas. E sabes o que é que acontecia aos professores universitários? Iam para o olho da rua. E era bem feito para não andarem a criar universidades e cursos da carochinha para enganar os miúdos. Os miúdos que não fazem ideia do que os espera! Os miúdos que acreditam no mérito. Os miúdos que acreditam que vão vencer. Se fossem meia dúzia no desemprego, podíamos até pensar que a culpa era deles. Mas 60 mil, dá que pensar. Não podem ser todos falhados! Alguma coisa aqui cheira muito mal neste reino...
Dizes que o mal não é existirem os cursos, e eu digo que o mal é não existirem empregos. E sim, vou adorar ver os professores inscreverem-se no centro de (des)emprego junto com os alunos, porque, como eu disse, os pimpolhos vão acabar. Já estão a acabar. Já se sente no ensino secundário. Mais ano menos ano, chega à universidade.
(continua no post seguinte)


O cenário é mau. Mas o simplista prateado não deixa de ter alguma razão: um curso não é uma garantia de emprego e as pessoas devem pensar bem antes de lhe dedicarem não sei quantos anos da sua vida. Mas o que é que se pode pedir para fazer a um puto que revela capacidade para estudar Direito, Filosofia, Psicologia, Biologia, ou outra coisa? Que se contente em vender hamburguers no mac? Há qualquer coisa que não bate certo.É bem verdade que algo vai mal num país que desperdiça desta forma a sua massa cinzenta. Entretanto, na política, os valentins, os sócrates, os abelinos, os santanas e quejandos, continuam e sobrevivem... Mefistófeles Enviado por em março 3, 2004 11:17 PM

Mas isso são as cunhas! Qualquer idiota que tenha um papá (ex: João Loureiro) faz uma banda, dirige um clube de futebol, vai para a política... Queres ver que eu não faço nada disso porque sou muito estúpida? (só se for por não arranjar um amante com dinheiro e posição, que também é uma solução muito viável...) Mas somos 60 mil estúpidos? Pá, muita gente estúpida em Portugal...

Quanto às capacidades individuais, ainda posso ir mais longe. Dizem que o país precisa de licenciados nas Ciências. Ok, mas eu não gosto dessa área. Sempre gostei de Humanidades. Entre ser médica e ir fritar hamburgueres no MacDonalds, prefiro o MacDonalds. Sangue por sangue, pelo menos a vaca já não grita.
Se dissessem de uma vez por todas: não precisamos de mais advogados, jornalistas, professores, a malta nem se dava ao trabalho. Ia logo para o MacDonalds.
E é isso que os PROFESSORES E OS LOBBIES DO GOVERNO NÃO QUEREM QUE SE SAIBA!!! Ficavam com a família no desemprego e tinham que sustentar filhos, irmãos, cunhados e outras cunhas.

Ainda sobre o Mac, quem te disse a ti que o Mac emprega licenciados? Pois, aí é que está! Ninguém quer empregar gente sobre-habilitada. Porque é que pensas que está tanta gente licenciada desempregada? Porque preferem gente com o 12º ano. Porque a licenciatura só serve para atrapalhar o currículo. Agora já não me dou ao trabalho de a esconder, mas já dei. Já esteve muito pior do que está agora. Há 10 anos atrás um licenciado não conseguia um emprego como recepcionista, nem temporário. Agora já se consegue. Temporário, mas já se consegue. Progresso, aleluia!

Olá! Está muito bem aquilo que disseste! Eu acho que tu devias ir para comentadora dos telejornais, ou então ter um programa teu para falar sobre estes e outros assuntos (...) Filipa em março 4, 2004 12:05 AM

Não é preciso. A Manuela Moura Guedes comentou por mim. Aquilo é jornalista/comentadora 2 em 1. Lá está, a tirar um emprego a um comentador!...

Publicado por _gotika_ em 04:27 AM | Comentários: (3)

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