sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Gotika: arquivos Fevereiro 2004

fevereiro 24, 2004

A minha última paixão

Procurei refúgio nas últimas páginas de “The Tale of the Body Thief”. Oh, que decepção, Lestat! Estou tão danada também contigo, agora que já te amava tanto! Se o soubesses, também me transformavas num dos teus, contra a minha vontade? É essa a tua gratidão? Saberás o significado da palavra respeito? Egoísta infantil! Sabes que vais arder no inferno do teu arrependimento, não sabes? Pobre estúpido! Não negues! Negas agora por orgulho. Ainda me vais dar razão.
Tu não és Mau! A tua “maldade demoníaca” não passa de capricho de menino mimado! “Old demon” my ass! Spoiled, idiot, stupid, poor little idiot you!
Ainda tens muito que aprender. Que os teus amigos tenham paciência para te aturar. É difícil não te amar, Lestat. Sim, eu sei que te custa a crer. Debaixo de um grande complexo de superioridade está sempre o reverso da medalha. Tens medo da solidão e da morte. Por essa ordem. Mas o que mais temes é o vazio que encontras dentro da tua alma egoísta quando te vês sozinho e a morte te tenta. A morte que não consegues aceitar e tanto temes, torna-se sedutora. Sem amor não vale a pena, pois não, Lestat?
Talvez Anne Rice ponha no teu caminho a pessoa certa no momento certo para perceberes que não deves temer a solidão. Talvez assim não temas tanto a morte. E já to disseram tantas vezes, Lestat, e tu não ouves!

Oh! Todos os outros me devem condenar pelo meu temperamento, pela minha impetuosidade, pela minha determinação! Eles gostam de ver. Mas quando eu mostro a minha própria fraqueza, eles afastam-me. É isso? Sou deveras forte?
Respondeu-te o Body Thief: Oh, sim, nunca te faltou a força! E é por isso que eles te invejam e desprezam e se zangam contigo.

Mas tu não acreditas. Quando viste o teu corpo passar, com alma de outro dentro dele, quais foram os teus pensamentos? Mesmo no meu medo, pensei subitamente que [a figura dele] era de partir o coração de tão trágico. E questionei-me se não teria parecido aos outros o mesmo fracasso maçador quando estava naquele corpo. Não teria parecido o mesmo triste?

Achas mesmo que sim?
E quando dizes: Claro que os fiéis e zelosos leitores dos meus livros viram-me aqui de vez em quando. Os leitores das memórias de Louis, se tivessem encontrado o apartamento em que morávamos, seguramente reconheceriam a casa.
Não interessa. Eles acreditaram nisso, o que é diferente de acreditar. E não podia ser outro jovem de faces louras, a sorrir-lhes da alta varanda, com os braços apoiados no corrimão? Eu nunca me alimentaria destes ternos inocentes - mesmo quando eles mostram as suas gargantas e me dizem “Lestat, aqui!” (Isto aconteceu, leitor, em Jackson Square, e mais do que uma vez.)


Como podes dizer que não és amado? A tua sorte é que ainda tens muito, muito tempo para aprender. Ainda bem, porque precisas de aprender muito.
Por enquanto, tenta este pequeno passo: não descarregar nos teus amigos o mal que outros te fizeram. Não só estás a ser injusto como também os estás a perder.
Oh, Lestat, que lição tão básica, Lestat!

Publicado por _gotika_ em 10:22 AM | Comentários: (3)

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