domingo, 16 de dezembro de 2012

Do prazer na Idade Média e do desprazer de agora

“No século XII, Guillaume de Conches observou que a mulher para engravidar tem de sentir prazer, pois este permite a emissão do sémen e, consequentemente, da fecundação. As prostitutas que vendem o corpo a troco de dinheiro não sentiam qualquer prazer durante o acto e, por essa razão, não concebiam.
Podemos objectar que as mulheres violadas não deveriam então conceber, mas, pessimista quanto à natureza humana e até um pouco cínico, Guillaume retorquia: «apesar da violação ser desagradável ao princípio, depois, e com a ajuda da fraqueza da carne, o acto não se realiza sem consentimento». Ora, os ensinamentos de Guillaume de Conches, influenciados pelas ideias do médico grego Galiano (cerca de 131-201) sobre o esperma feminino, tiveram grande difusão no fim da Idade Média.”
 “O Prazer na Idade Média”, Jean Verdon, 1996

Tirando o conhecimento actualmente generalizado de que as mulheres não produzem esperma, tenho para mim que na cabeça de muitos homens, hoje, no século XXI, e por outras palavras, mais sofisticadas, que significam o mesmo, é obrigação da mulher gostar de ter relações sexuais com eles, por muito incompetentes que sejam, porque a carne delas deve ser tão fraca como a carne deles.
Certas coisas, pelos vistos, não mudam nunca.

“No parecer de André Le Chapelain, os camponeses não se interessam particularmente pela procura do prazer: eles são, diz o autor, levados de forma natural a efectuar a obra de Vénus como o cavalo e a mula, seguindo o instinto natural. O trabalho da terra e os prazeres da lavoura e da enxada bastam-lhes.
Já o aristocrata tem direito a gozar e, se uma camponesa o atrai, não hesita em possuí-la à força, pois ela é bem capaz de lhe recusar o prazer que espera dela.”
“O Prazer na Idade Média”, Jean Verdon, 1996

O aristocrata, evidentemente, tem o direito de tomar tudo à força. O povo não passa de um bando de animais, cavalos e mulas, contentes em chafurdar na terra. As mulheres, principalmente, de carne fraca, como já vimos, são ainda por cima animais ariscos que obrigam o gentil homem a cansar-se, perseguindo-as como se fossem ovelhas. No entanto, na certeza de que “desagradável ao princípio” “o acto não se realiza sem consentimento” deverá considerar-se um gozo ser-se procurada por um cavalheiro.
O povo, e as mulheres sobretudo, servem mesmo para esmagar debaixo da pata dos aristocratas.
Hoje e sempre.

2 comentários:

Fashion Faux Pas disse...

Pedro Passos Coelho. Com as devidas ressalvas, que não me refiro a sexo.
O que eu já me ri a ler isto!!!

katrina a gotika disse...

Eu não queria referir-me a ninguém a particular, até porque isto já dura há tanto, tanto tempo, que não me engano muito se arriscar dizer que data aos tempos pré-históricos. O povo, os mais fracos, os desprotegidos, as mulheres sobretudo, servem mesmo para explorar, violar, sugar.