sábado, 1 de dezembro de 2012

Gotika: arquivos Janeiro 2004

janeiro 16, 2004

E Marilyn Manson, é gótico?...

Coitado! Certamente ele não desejaria tal sorte. Estar musicalmente associado ao movimento gótico é um estigma muito mal cotado entre as grandes editoras internacionais.
O que está em causa é que, mais do que o artista decidir que quer fazer música para góticos, é o movimento que escolhe os artistas de que gosta. A opinião do artista não é de todo levada em conta (veja-se o caso Sisters of Mercy). Como Joy Division ou Depeche Mode (cujos estilos musicais sempre estiveram muito longe do rock gótico “padrão”), Marilyn Manson faz agora parte da lista obrigatória de qualquer local gótico. Foi adoptado, quer ele o desejasse quer não. Agora é tarde. Mas qualquer artista que “brinque” com símbolos religiosos e esotéricos, morte, sexo e violência arrisca-se a ser seleccionado.
Marilyn Manson deve ser odiado por metade dos góticos (principalmente os da minha idade) e adorado pela outra metade. Eu gosto.
Quando ouvi falar dele pela primeira vez julguei tratar-se de mais um espectáculo teatral do género Cradle of Filth. Quando li as letras percebi que a genialidade do homem é principalmente a forma como faz passar a sua mensagem, utilizando todo o marketing da sociedade para criticar a própria sociedade. Se ele se tornou grande, foi o extremismo americano que o pôs nos píncaros, exactamente o mesmo fundamentalismo que lhe proíbe os espectáculos sem perceber que o fruto proibido é o mais apetecido. Diga-se de passagem, há muita coisa que os americanos não percebem. O próprio Manson afirmou que a Europa é muito mais culta e que por isso não estranha que os seus concertos não sejam proibidos no velho continente.
Muitas partes da mensagem de Manson dirigem-se à sociedade americana. As constantes referências ao presidente morto, o slogan “do you love your guns, God, the government?”, as travessias no vácuo do espaço, não tenham dúvidas, não são para nós. Quando Manson se torna mais universal, “this is evolution: the monkey, the man, then the gun”, aí sim, é para todos.

Se há alguma contradição à volta de Marilyn Manson, não é a banda que a promove. A banda limita-se a fazer música e expressar a sua opinião. A reacção da sociedade é que é notavelmente exagerada. Marilyn Manson, o génio, apenas aproveita para a manipular a seu favor. Genialmente.
A grande contradição está no facto de que Brian Warner passa muito mais tempo a pensar em Deus do que os supostos cristãos que passam o dia a pensar como destruir Marilyn Manson, a ameaça. Brian Warner conhece as fragilidades destes cristãos “convictos”.
Não me admirava nada, daqui por uns anos, de ver Marilyn Manson convertido. Precedente já tem. Nick Cave também começou perdido entre o bem e o mal e hoje é um crente.

Publicado por _gotika_ em 04:55 AM | Comentários: (7)


Os góticos e o misticismo

Vamos lá ver uma coisa!... E podem citar-me onde quiserem, até agradeço.
Não há símbolos góticos. Todos os símbolos que os góticos usam não são de invenção gótica. As cruzes, os pentagramas, os símbolos celtas e egípcios, como o próprio nome indica, pertencem ao seu local de origem.
É um facto que os góticos como sub-cultura urbana são uma montra de símbolos. Muitos deles nem sabem o significado daquilo que usam, mas usam à mesma.
Podemos afirmar sem nos enganar muito que os góticos têm tendência para o misticismo. Porque se interessam pelas ciências ocultas, pela religião, pelo sobrenatural, pelo esoterismo, pela magia, tudo conceitos que já definiam o gótico desde o século XIX, será mesmo uma questão de personalidade. Todos estes conceitos são abordados na música chamada gótica. A postura que individualmente adoptam perante cada um deles é que pode ir da pura descrença à prática de qualquer religião ou filosofia. Já encontrei góticos pagãos, cristãos, e góticos que não acreditam em nada. É normal que as pessoas usem adornos na forma de símbolos que lhes dizem alguma coisa. Perguntar a um gótico porque usa uma cruz é o mesmo que perguntar a uma velhinha acabada de sair da missa porque usa uma cruz, se bem que aposto que a resposta do gótico é bem mais interessante e subversiva... No entanto, não deixa de ser uma opinião muito pessoal.
Vem isto a propósito da confusão que vai na cabeça de muita gente de que os góticos são todos satânicos, adoradores do diabo e coisas quejandas. Por um lado isso é bom porque mantém os bimbos à distância, não sejam eles sacrificados em qualquer ritual esquisito ou embruxados pelo “mal de olho” das bruxas que por lá andam. Não se esqueçam que no século XIX ainda se queimou uma bruxa em Portugal! A superstição existe mesmo! Nas zonas do interior acredita-se mesmo nisso!
Tirando o facto de assustar os bimbos, não é mesmo nada bom estar associado a uma filosofia de vida que é partilhada por alguns góticos, não duvido, mas que de forma alguma se pode generalizar a todos. Meter isto na cabeça das pessoas mais velhas é que não vejo como!
Começou tudo com Marilyn Manson, que deu em vestir-se como os góticos e foi desde sempre associado ao satanismo (ainda estou para saber até que ponto é que ele partilha da filosofia satânica moderna, mas acho que também não é da minha conta). Não vejo que este estigma abandone o movimento gótico enquanto não aparecer um artista que os góticos ouçam e que tenha uma filosofia de vida pior do que Brian Warner. Porque não haja dúvida, a sociedade só abandona um preconceito mau em troca de outro ainda mais sumarento.
Preparem-se, portanto.

Publicado por _gotika_ em 03:28 AM | Comentários: (1)

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