terça-feira, 14 de abril de 2009

"Prison Break"


Michael Scofield é o novo herói. Nunca mais haverá agente 007, MacGyver ou Jack Bauer que suplante este jovem engenheiro determinado, genial e maquiavélico cuja única arma é o cérebro. "Prison Break" é Michael Scofield, o improvável recluso de uma prisão de máxima segurança que se faz prender para organizar a fuga do irmão inocente, condenado à cadeira eléctrica. Contra tudo e contra todos, consegue. A partir daí, não há nada que o espectador não espere.
A primeira temporada foi um estoiro, a segunda a continuação lógica, a terceira a minha preferida. Na quarta temporada, porém, já se nota o cansaço e a falta de ideias de um argumento que se afunila em torno de uma organização todo-poderosa, monstro único e invencível, e completamente inverosímil por ser único. À semelhança dos grandes heróis da Antiguidade, basta a este Hércules cerebral decepar a hidra para que esta desapareça. Não é assim na vida real, e é uma pena que uma série que desde os primeiros episódios era tão realista e prosaica como um buraco numa cela atrás da pia tenha transformado Michael Scofield em mais um agente secreto cheio de truques de MacGyver a combater um qualquer "Goldfinger". Muitos fans ficaram desiludidos e acho que têm razão para tal. Esticar um tema à exaustão por motivos comerciais, no cinema e na televisão, tal como na música, enjoa... e estraga.
Salvam-se as excelentes interpretações de Wentworth Miller em Sona (aquela mão direita sempre a tremer nos momentos de nervosismo foi genial), e o brilhante Robert Knepper como T-Bag no papelão da sua vida (na quarta série, consegue redimir o psicopata mais repugnante, vil e manhoso da história numa personagem de carne e osso, que as outras não são, e vê-lo trabalhar, independentemente dos soluços da história, é por si só um prazer, e oxalá o vejamos muito mais vezes no cinema ou na televisão).
Apesar de tudo, os últimos episódios da segunda temporada são dos melhores momentos de televisão que já vi: Michael Scofield e o seu irmão conseguem finalmente fugir para o Panamá e chegam a uma praia paradisíaca onde os espera um iate e uma vida sem problemas, mas uma mensagem de um amigo leva o herói a voltar para trás, quando podia não o fazer, e acaba a ser encarcerado numa prisão de terceiro mundo, numa espécie de descida ao Inferno debaixo de chuva que o eleva a tal estatuto mitológico dos grandes épicos. Do ponto de vista psicológico, é igualmente brilhante constatar que Scofield, apesar de toda a sua inteligência, é possuído por um fanatismo que nas circunstâncias parece mais um desejo de morte. Ironicamente, na quarta temporada, revela-se que a sua maior arma, o cérebro, é também a única ameaça que o consegue travar, não apenas a nível psicológico como físico, quando a personagem é derrotada por um tumor que o impede de concretizar (ou apenas adia?...) todos os seus planos. O herói tem, portanto, um lado negro, uma fraqueza que acaba por ser a sua maior força: como se adivinhava há muito, também a Companhia desiste de lutar contra ele e tenta comprá-lo. Totalmente previsível. Toda a gente sabe, menos a Companhia, que está a engolir uma piranha. Isso deve ser divertido de ver.
Esperemos, no entanto, ser poupados a mais cenas caricatas, mas sem graça nenhuma porque destroem a credibilidade da ficção, como aquela em que Michael Scofield é operado ao cérebro sem lhe terem rapado o cabelo. Mas esta gente não vê o Dr. House?