quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ser-(se) gótico, mas acima de tudo ser-"se"

Dedicado a todas as flores do mal ainda em botão

A adolescência é uma das fases mais interessantes da vida. Há quem diga que é a fase da descoberta mas eu discordo. Para alguns de nós (os felizardos) é apenas a primeira. Outras se lhes seguem.
Tem-me surgido muito a questão do que diria a um adolescente que podia ser meu filho sobre o gótico. Diria isto:
Não te deves preocupar com o que és, neste momento, mas apenas em ser. Um dia olhas para trás, dá-se um clique, e percebes o que és, o que foste, e até o que vais ser. Como diria o título daquele livro lamechas, "vai onde te leva o coração". Vai onde a alma te mandar ir. Sem vergonha, sem preocupações. Eu sei que dizer isto a alguém na idade em que se está a definir como pessoa merecia-me já um par de estalos mas alguém tem de o dizer de vez em quando.
Tenho para mim que só existem verdadeiros góticos a partir dos 25 anos, ou mais tarde ainda. Os estados depressivos são típicos da adolescência, o que torna todos os adolescentes numa espécie de góticos passageiros, mesmo os que fingem e não admitem. O gótico é aquele que vive permanentemente nesse estado de adolescência... desde a infância até à morte.
Mas quem ainda não fez 20 anos não se deve preocupar com essas idades longínquas. De forma alguma! Neste momento deves ser, sentir, estar. Pisar o chão que te dá mais conforto. Um dia chegarás a casa.
Boa viagem!

9 comentários:

JPC disse...

Donde se conclui, deste post, que os góticos são adultos deprimidos.
A primeira "fase" de descoberta começa quando saímos do ventre. Depois, sim, todas as idades são de descoberta.

katrina a gotika disse...

Donde se conclui, deste post, que os góticos são adultos deprimidos.

Eu não disse isso. Disse que vivem sempre na fase da adolescência, o que é bem diferente. Viver sempre na fase da adolescência, com tudo o que isso implica.
Já muitas vezes disse aqui que estar deprimido não sinónimo de ser gótico. O que é triste, porque se todas as pessoas deprimidas fossem góticas conseguiriam encontrar alguma sublimação para a sua tristeza.

JPC disse...

Então são adultos adiados.
E o que significa exactamente "sublimação"? Um gótico encontra alegria da depressão? Ou gosta simplesmente de ser triste? Acarinha esse estado de espírito? Ou adapta-se a essa condição que considera inevitável e dominante?

katrina a gotika disse...

Nunca são adultos. Graças a Deus!

Sublimação. A estética da morte. A beleza! Acima de tudo, a beleza!

JPC disse...

"Katrina a Gotika"... Soa bem. Faz lembrar imperatrizes ninfomaniacas.

Pronto, se é uma questão de Beleza, está bem, é um bom ideal.

E da Felicidade, que dizem os góticos acerca da Felicidade?

katrina a gotika disse...

«"Katrina a Gotika"... Soa bem. Faz lembrar imperatrizes ninfomaniacas.»

Não era a intenção... o_O

«E da Felicidade, que dizem os góticos acerca da Felicidade?»

Acho que cada gótico dará uma resposta diferente. Se calhar não há ninguém que pense mais na felicidade do que um gótico porque deu pela falta dela mais cedo. A maioria das pessoas julga que é feliz. Pelo menos o gótico tem a grande lata de assumir que não é e não se importar com isso.

JPC disse...

Não concordo com quase nada disso, mas tudo bem, todos temos direito à nossa visão do mundo e dos outros. Mas esta frase afigura-se-me particularmente bizarra, mesmo vinda de uma gótica: «A maioria das pessoas julga que é feliz». Ái sim? E como sabes tu tal coisa? Auscultaste a "maioria" em sondagem? Ou tens essa impressão geral? A minha impressão geral, por exemplo, é que a maioria das pessoas às vezes é feliz, outras nem por isso. É relativo. E há maiorias que são quase sempre infelizes e outras que são quase sempre felizes, enfim, depende da vidinha ou do vidaço de cada um ou de cada uma. Mas pessoas que "julgam" que são felizes não conheço nenhuma. Podes não concordar ou não gostar das razões dessa eventual felicidade, mas o sentimento de felicidade é sempre real, nunca é ilusório. Incluindo a felicidade dos imbecis que nos sanatórios se comprazem na ilusão de grandeza - os malucos com a síndrome do Napoleão-fase-Austerlitz, por exemplo, podem ser idiotas alucinados, mas a felicidade que sentem é real. Ou a felicidade de um benfiquista à saída da Luz depois de uma vitória do seu clube, por exemplo. No dia seguinte pode até voltar à mesma rotina regra geral eventualmente infeliz, mas naqueles instantes, é dono de uma felicidade incontestável e concreta. Ou a felicidade de uma criança quando lhe oferecem um chupa-chupa. Ou a minha felicidade quando nasceram os meus filhos. Ou a felicidade de um crente quando canta um salmo na missa e fica em estado de graça. Achas que esta gente "julga" que é feliz? Não há felicidade ilusória. Ilusória é a nossa opinião acerca da felicidade dos outros.
A felicidade pode ser intermitente, pode ser ausente, pode ser presente, pode ser fugaz ou duradoura, depende, mas É. Ou não.

katrina a gotika disse...

Sim, acredito que, no mínimo dos mínimos, as pessoas fingem que são felizes ou fazem tudo para parecê-lo. Parece vergonha admitir que se é infeliz.
Também não entendo, mas é assim.

JPC disse...

Acho que me expliquei mal. Não duvido que haja quem finja ser feliz sem o ser - se bem que neste país fadista acho que é mais ao contrário, a miséria e a tristeza são valores exaltados; um gajo/a alegre é um alvo a abater. Mas por norma é assim: às vezes somos felizes, outras não. Depende.