quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Precisamos de um Obama


O que aconteceu na América a 4 de Novembro é a promessa de uma viragem histórica a caminho da esperança e da paz a que o mundo inteiro não ficou indiferente. É minha opinião que quem limita este facto histórico à cor da pele de Barack Obama, o novo presidente dos Estados Unidos, não está a perceber de todo a importância do fenómeno. Barack não ganhou por ser branco ou preto ou mulato. Barack ganhou porque se atreveu a fazer um discurso de esperança por um mundo melhor, ignorando a real politic que é característica do próprio partido que o apoiou e descolando-se da tacanhez virada para dentro que caracterizou os últimos presidentes americanos, dirigindo-se até, no seu discurso de vitória, aos estrangeiros que o viam nos locais mais esquecidos do mundo. Espero que se refira a África (continente do seu pai), e à Ásia (onde a miséria e a exploração também grassam a todos os níveis), de que ninguém quer saber. Não sou egoísta ao ponto de me preocupar com a Europa que já tem mais do que idade e riqueza abundante para não precisar de ajuda (embora goste de se encostar quando toca a mandar os americanos para a guerra e os americanos tenham vindo a aceitar o encosto em troca do silêncio). Se isto acabar e Obama pedir responsabilidades à Europa, pode não ser bom para nós mas é bom para o mundo e já devia ter sido feito há muito tempo.
Com a saída do presidente George W. Bush, abandonamos uma era que por pouco se tornava uma das mais negras da História a seguir à guerra fria. Perante grandes ameaças, Bush fez grandes asneiras, norteadas pela ignorância e pelos interesses petrolíferos sob a capa de combate ao terrorismo. Por pouco, por muito pouco, isto não descambava num conflito global e terminal de que ainda não estamos salvos (mas parece que os iranianos, graças a Allah, não são tão suicidas como parecem). Bush conseguiu até pôr os europeus a considerarem seriamente a necessidade de um exército inteiramente europeu que protegesse os valores europeus do fundamentalismo religioso americano. Bush foi o pior presidente que a América já teve até hoje, e o mundo caiu nas trevas.
Mesmo assim, não foi por isso que Barack ganhou. O mesmo tentou John Kerry em 2004, há apenas quatro anos, já depois dos actos mais desastrados da administração Bush, e sem sucesso.
Barack ganhou o mundo com um discurso de confiança, esperança e fé, em vez do discurso de guerra e dinheiro. Mobilizou e trouxe esperança às pessoas de todo o mundo. E o mundo agradece-lhe.
Seja o que for que se passe a partir daqui, quer Obama se revele como prometeu ou se torne uma desilusão, podemos tirar lições para o nosso pequeno país. É melhor enterrar o discurso sebastianista como mito tipicamente português. Não é. O mundo aderiu a Obama como se um D. Sebastião se tratasse. Deixemos de ser arrogantes e derrotistas. Aqui também é possível. Não precisamos de um mito. Precisamos de um líder carismático, confiante, que calque com força suficiente para deixar pegadas na História. Enterre-se o mito. O que precisamos é de um Obama.
Um Obama que com a sua verticalidade dê um chuto nos ninhos de corrupção dos partidos com assento parlamentar, especialmente esses irmãos gémeos do Inferno PS e PSD, que comem bancos e choram migalhas a dar aos pobres, um Obama que tire as pessoas de casa e as ponha a votar no dia das eleições. Um Obama que faça ecoar por Portugal o clamor que agora se ouve pelo mundo.
As eleições são já para o ano. Agora só faltam tomates.


A importância do nome

Ainda sobre Barack Obama, um apontamento que me parece interessante. Curiosa, fui à procura do significado de Barack, nome próprio, e eis o que encontrei na Wikipedia:

In modern Arabic, the name Barack (Arabic: بارك ) pronounced ba'-rak, means "he who is blessed" or simply "blessed". A more common form in most Arabic-speaking countries is the passive Mubarak.

The usage of the root B-R-K as a male name meaning "blessing" occurs in the Ancient Semitic Sabean (barqac), in Palmyrene (baraq), and in Punic (Barcas, as surname of Hamilcar), and as a Divine name in Assyrian Ramman-Birqu and Gibil-Birqu[1], and personal Biblical name Barukh or Baruch (which is also the modern Hebrew cognate; see Book of Baruch for an instance of the name). "Barack" and "Baruch" are equivalent to "Benedict" (Latin Benedictus).

Não é uma coincidência agradável que o significado do nome Barack seja o mesmo do Papa Joseph Ratzinger, chamado de Bento XVI, em inglês também "Benedict". E não é agradável porque este é um mau Papa, um Papa que está a fechar as portas das igrejas que João Paulo II abriu. Um Papa que está a retirar cada vez mais cristianismo ao catolicismo. Um Papa de má memória.

Que Barack seja de facto bendito.

3 comentários:

Tomás disse...

Do meu ponto de vista, aquilo que ele fez foi conquistar a multidão com promessas de um mundo melhor para eles. Que é o que qualquer político carismático faz, e que invoca a comparação inevitável com um certo Sr. Hitler que também conquistou a multidão com o seu carisma e as suas promessas.

Como o exemplo alternativo sugere, uma vez conquistada a multidão ainda há amplo espaço para se fazer merda da grossa, e curiosamente lembro-me de ter lido de um link algures na blogosfera que falava do efeito que Barack teve com os seus discursos na Alemanha, e como para a juventude fazia falta à Alemanha mais políticos como ele.
A juventude tem tendência para os idealismos e as mudanças, porque são optimistas e insatisfeitos por natureza, por isso acham sempre que a merda onde estão é o pior a que é possível chegar e o que é preciso é alguém que venha e nos conduza para um sítio melhor.
As pessoas com memória e experiência já tiveram a sua quota parte de profetas caídos em desgraça e desenvolvem uma aversão natural a quem promete mudar tudo. Já só querem é que não venha outro maluco cheio de ideias para foder tudo ainda mais do que está. Para esses, quanto mais calminhos e enfadonhos forem os políticos, mais seguro é para toda a gente.

No caso de Portugal, acho que há muito mais velhos em espírito do que jovens em espírito. E há uma uma tradição nacional muito desenvolvida em achincalhar pessoas. Um Barack por cá seria rapidamente desgraçado e esquecido.

Resta-nos olhar para o Barack de lá e rezar para que ele seja tão bom nos actos quanto é nas palavras. Porque cada profeta caído é mais um metro na montanha que o próximo tem que escalar para se fazer ouvir. E ninguém quer estafar o S. Sebastião.

katrina a gotika disse...

Boa análise, Tomás.

Não concordo muito que um Barck aqui fosse achincalhado. Se fosse achincalhado não teria o carisma de Barack (que é por isso que Barack não se deixa achincalhar). Percebes o contra-senso?
Teria de ser alguém altamente carismático.
E concordo absolutamente contigo quanto ao perigo dos "grandes líderes". Nunca se sabe se sai dali um grande democrata ou um grande ditador.

Klatuu o embuçado disse...

Mais do mesmo, em versão light brown, nada vai mudar.