quinta-feira, 14 de junho de 2007

À frente

"You just spent too much time running away to realise whatever you're running toward"

in "Lost"


Tenho-me questionado sobre a razão da existência (da minha em particular) desde que tomei consciência de que era uma pessoa, mais precisamente desde o momento em que me apercebi da mortalidade da condição humana. Deveria ter uns três anos nessa altura. Ao observar, distanciadamente e ao longo de muito tempo, o decurso da minha vida, cheguei à conclusão que o único propósito para eu estar aqui é cumprir uma sentença. Desde esse momento de lucidez, na tenra infância, me senti presa, encarcerada, sem fuga possível. Todas as minhas aspirações se resumem a ser livre. O poder, que eu considero o inverso da liberdade, nunca me disse nada. Nunca quis ter grilhões que me prendessem ao mundo. E contudo aqui estou, contrariada e à espera de uma oportunidade de escapar.
A frase citada lembrou-me, no entanto, de um pormenor que muitas vezes esqueço mas do qual estou bastante consciente: tudo isto tem um propósito. Não tenho a mais pequena dúvida. Como numa lição da escola, a repetição é a base da aprendizagem.
Não, não sei para o que corro quando fujo do que está aqui, mas duma coisa tenho a certeza: não corro em vão. E muito menos sem destino. Vou para algum lado. E quanto mais avanço mais próxima sinto essa realidade. Embora corra a olhar para trás, como um animal perseguido, sei que vou no caminho certo. E que está lá. À frente.