terça-feira, 29 de maio de 2007

Hora Absurda

Descobri um blog de leitura obrigatória para quem gosta de perceber as coisas, tem cultura geral que baste e grande sentido de humor: Hora Abusurda VI.
Segundo um dos tratados do autor, o mundo divide-se em tios e bestas. Os tios são poucos. As bestas são os outros.

É certo que o pacto de Bolonha já reduziu a licenciatura para três anos, mas muito há que caminhar ainda até que as bestas possam também fazer as suas licenciaturas por fax, e não precisem andar a gastar o dinheiro dos progenitores durante anos, só para terem um título que lhes garanta emprego num qualquer call center ou num supermercado, ou ainda, caso tenham sorte, como trabalhadores da FNAC, onde ao menos podem ter acesso aos livros.
Já viram como a mão-de-obra iria embaratecer se as licenciaturas fossem feitas por fax ou até mesmo online?


Aconselho também a leitura do tratado paralelo "Das Tinturra".

Neste momento só conheço um tio que está preso, o coitado do tio Valle e Azevedo, e só porque comprou um botinho de borracha com dinheiro do Benfica. Que eu saiba ele não violou ninguém nem roubou dinheiro como os donos dos bancos. Felizmente agora os tios já fizeram uma lei que permite roubar quantias até quase cem euros de tintura a cada besta, sem estar a cometer crime algum. (...)
Resumindo, os tios estão, para já, a salvo das bestas porque estas andam desorientadas que nem baratas tontas, sem saber já em quem acreditar ou não, e têm razão em não acreditar em nenhum tio porque nenhum deles dá um ponto sem nó, e quando dá um nó tem a lei do seu lado e os advogados merdiáticos que os ajudam a desfazer o nó. De resto, podem dormir descansados porque as forças policiais, os securitas e, em último caso, os militares, saberão defendê-los das bestas porque as bestas foram feitas só, e exclusivamente, para trabalhar para o bem dos tios.


Mas isto é como tudo, vou ter de entrar em saudável altercação. Diz o autor em certo passo:

Os tios Marx e Engels julgavam – aliás, como todas as bestas julgam – que já se atingira no tempo deles o estádio final da revolução que as máquinas provocaram na vida das bestas. Deste modo, as bestas operárias necessárias para trabalhar nas fábricas teriam um grau mínimo de competências porque aquilo que tinham que fazer era tão simples que qualquer besta seria capaz de o fazer. Isso ficou bem ilustrado no filme do Charlot, Tempos Modernos. Este filme devia fazer parte dos curricula de todas as escolas do país, não só para mostrar aos alunos, como também para que os professores o vissem e se consciencializassem que a robotização precisa de bestas ainda mais burras do que as da industrialização tayloriana. Se uma besta que trabalha numa linha de montagem tem que saber executar uma pequena tarefa, uma besta robotizada pode ser instruída numa hora. Tomemos como exemplo o trabalho num call center, destinado a bestas licenciadas, e digam-me lá se aprender a dizer “Bom dia, daqui fala a Marta, em que posso ajudá-lo?” precisa de grandes preparações. O mais difícil é ajudar, mas já ninguém espera ajuda dos call centers e contenta-se com dois dedos de conversa e, sabe-se lá…


Discordo! Discordo completamente! Só há duas profissões mais difíceis que operador de call center, e são elas, por ordem de dificuldade: ministro e primeiro-ministro. Os operadores de call center são ainda os que mentem menos dos três, razão pela qual auferem menos rendimento, o que é perfeitamente justo. O rendimento tem de ser proporcional ao grau de mestria do mentiroso, com ou sem diploma.

1 comentário:

H. Sousa disse...

Muito obrigado, Gotika, pela referência ao blog e aos meus «tratados» onde «trato» aos tios da saúde. Muita tintura vai correr ainda, a missa ainda vai a meio.
A sua observação em relação aos tios ministros está bem vista sim senhor. Ainda não vira as coisas por esse prisma, mas estamos sempre a aprender, os tios saem-se todos os dias com novas descobertas que nos deixam banzados: pontes dinamitadas, desertos na margem Sul, tudo se inventa para justificar o que eles ganham.
Abraços