quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Espelho distorcido

Havia uma ambição secreta por trás deste blog. A mesma que sempre almejei toda a vida: ser compreendida. Inconscientemente, o que eu esperava deste blog era que as pessoas me conhecessem, através da sua leitura, e que algumas, até, me compreendessem.
Sim, sempre foi isso o que quis das pessoas: a compreensão. Não me interessa que gostem de mim mas exijo, como a mais importante afirmação do meu ser perante o mundo, que me compreendam.
Se ninguém me compreender é para mim exactamente o mesmo que estar completamente sozinha neste planeta.
Ser compreendida não me acontece muitas vezes na vida real. Esperava que acontecesse aqui, depois de anos a despir a alma para toda a gente que quisesse ler, através do intimismo que o anonimato permite e da efeito prolongado da palavra escrita. Mas não aconteceu.
Os leitores provaram sucessivamente que não me conhecem mas, mais importante do que isso, que não me compreendem. Durante algum tempo atribuí o facto ao fracasso pessoal de não me fazer entender, de não ser suficientemente clara. Mas depois cheguei à conclusão de que não por culpa minha, ou dos leitores, também não é possível através deste meio dar alguém a conhecer, muito menos ambicionar ser-se compreendido. Para isso seriam precisos mais pormenores, mais descrições do dia a dia, mais exposição. A simples defesa de valores morais e interacção intelectual não bastam.
A verdade é que há uma esfera de intimidade que reservo apenas e só aos amigos. Só para esses, talvez, os meus textos façam todo o sentido. Há uma razão para que exista no Live Journal a opção "friends only" em que só utilizadores seleccionados podem ler as entradas privadas "for friend's eyes only".

Enganei-me em relação a esta coisa. Também não é assim que vou ajudar os outros a compreender-me. A única coisa que ajuda os outros a compreender-me é a sua vontade de me compreender. E se esta não existir, é para mim exactamente como estar absolutamente sozinha no planeta.