quarta-feira, 12 de julho de 2006

Da independência dos povos

A mim me parece que a independência dos povos está também ligada à mesma vontade de ser independente que dá nos adolescentes saudáveis que crescem, querem sair de casa dos pais e governar a sua vida sozinhos. O mesmo se passa com um país. Qual é o homem ou mulher que depois de ter estabelecido a sua vida independente abandona a sua casa e parte para tentar a sorte noutro lado?
Quase diria que isto me custa a entender nos portugueses, mas vendo bem a questão até não é assim tão difícil de explicar.
Aqui há tempos, quando me queixei da minha vida, da falta de oportunidades, perguntaram amigos e desconhecidos: mas não podes emigrar? Por acaso até não posso, já não tenho idade nem saúde para isso (como fizeram duas primas minhas, mais novas do que eu, que apanharam tempos em que já não há esperança), mas a verdade é que nunca quis emigrar. A verdade é que sempre quis estar aqui, fazer a vida aqui, lutar pelo que quero aqui.
Não sei se isto será patriotismo ou apenas teimosia ou apenas o simples facto de gostar do clima. Poderá ser tudo. Não interessa, hoje o assunto não sou eu.
A mim não me parece que qualquer povo possa ser independente sem um pouco que seja de patriotismo.
Vê-se que desde o descobrimento do Brasil o português desatou a imigrar. Com isso concidiu, a apenas um século de distância, a ocupação filipina de Portugal, que sugou os cofres do reino. Alguém acabou defenestrado. Mas pelos vistos não bastou. Os vícios estavam tão instalados que a nação nunca mais se endireitou. Ficou desde aí curvada, a fazer vénias ao estrangeiro. Depois dos espanhóis, aos franceses, depois aos ingleses, mais recentemente à Europa toda.
A solução para muitos portugueses que não encontraram oportunidades, principalmente os mais pobres, tem sido, há séculos, a partida, seja para a América, para a Europa, para África ou para o Brasil.
A pátria está moribunda e o povo parte. Mas que raio de solução é esta?! Eu compreendo a solução. É uma fuga desesperada de quem percebe que não consegue mudar o país, demasiado enfermo para escapar da doença que lhe corrói os ossos (por alguma razão se lhe chama corrupção), e não vê outra alternativa senão tentar a sorte num país a sério ou oferecer os seus préstimos qualificados aos países menos desenvolvidos. É a solução de quem desiste de lutar pelo próprio país. Mas que é uma solução terceiro mundista, é. É exemplo de país desenvolvido? Não. Veja-se a África e o Brasil. São exemplo de qualidade de vida e direitos e garantias dos cidadãos? Com todo o respeito que me merecem, não, não são, por razões que todos sabemos, com a corrupção estatal (e o povo mantido em ignorância e miséria) à cabeça da lista.
Pergunte-se a um francês se em face de perigo para a pátria, a abandona? Pergunte-se a um inglês se pensa imigrar. A um alemão, pergunte-se-lhe se com a pátria ameaçada pensa em fugir para o estrangeiro. Pergunte-se a um americano se quer a nacionalidade de outro país. Por último, para não ir muito longe, pergunte-se a um espanhol se abandona Espanha. Tenho de responder a estas perguntas de retórica?
O facto é este. Queremos ser como um país do terceiro mundo, que só existe para ser explorado pelos reis da repúblicas das bananas, ou queremos ter um país a sério, como os países que acabei de citar? Qual é o nosso modelo? Teremos um modelo? Queremos mesmo continuar a ser um país? Ou mais vale integrarmo-nos como província de Espanha, essa sim, um país a sério?
(Talvez a Espanha não nos aceite. Podemos sempre perguntar aos Estados Unidos se lhes dá jeito mais um estado. A posição geo-estratégica até é boa, quem sabe temos sorte?)
Era bom que alguém perguntasse isto aos portugueses nas próximas eleições. Há-de chegar o momento em que o povo está preparado para ouvir a dura verdade. É uma questão de tempo.
Enquanto o povo não se afirmar e decidir, a minha única esperança é de a União Europeia faça de Portugal o que os nacionais não fizeram, senão um país a sério pelo menos uma província europeia a sério.
E o país, o que quer? É preciso que o país pense mas custa a pensar, esta gente! É preciso que saiba o que quer e páre de votar à esquerda e à direita a quem lhe promete esmolas. É preciso prestar mais atenção e ter memória mais longa. É preciso ser mais inteligente. É preciso ser mais corajoso e encarar os problemas de frente em vez de fugir deles para os braços do primeiro vendedor de banha da cobra que apareça na rua a dar ilusões. Está na hora de crescer, ser independente, governar a vida sozinho, sair dos cueiros sujos que já tem idade para ser homenzinho.

11 comentários:

Unknown disse...

Esotéricamente falando, deu-me para começar a traçar o perfil numerológico de Portugal. O resultado?! É o que eu chamo de embróglio. Mas curiosamente, apresenta um final promissor.
Como isso me exige atenção a detalhes, vou apresentar os resusltados no blog de que sou responsável, assim que estiver concluido.
Tal como nas pessoas, e como os paises são constituidos por pessoas, o ego, o nosso falso centro, é um factor determinante para que as mudanças operem.
Quanto à Europa, não tenhamos ilusões, especialmente quando o próximo poder deste sec XXI se prepara para tomar de novo o seu lugar... E o Dragão Ataca.
Quanto ao país onde vivemos, é um pouco a imagem de um Santiago, personagem de "O Alquimista" de Paulo Coelho. O caminho que percorrer vai determinar se o é de facto, ou não.

^^c^^

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Lord of Erewhon disse...

A política não é o teu forte.

Unknown disse...

Pois é Necare.

Se for necessário aguarda, e quando a disseres "é agora", porque não?!

Anda aí um maluco que tem pretensões de ir para a Irlanda. Afinal, a nossa casa é onde está o coração.

^^c^^

Al Cardoso disse...

Um texto extenso que li com gosto, o nosso mal e termos muito pouca auto-estima, e nao tentar ser cada vez melhores e isso nao inclui so o futebol, e muito mais que issso.
Eu tambem como muitos fui cobarde e fuji, esperando no entanto puder voltar de vez um dia.

Um abraco beirao.

Solum disse...

Ponto um: A Pátria não está moribunda. A verdae pode não te dar jeito, mas é esta: nunca tantos portugueses viveram tão bem e com tanta paz. Nunca os níveis de conforto e segurança foram tão grandes. Nunca houve tanta liberdade.
Ponto dois: Filipe não invadiu Portugal. Herdou o trono como todos os reis antes e depois dele. Tinha direito à herança de acordo com as leis e costumes da época. Foi aclamado em Cortes. Ninguém se opôs, à excepção de um tal de Febo Moniz. Quando chegou a Portugal, um pateta, um tal prior do Crato, foi à prisão libertar uns vagabundos e pôs-se à frente das tropas filipinas, como um Quixote a querer para o comboio à cabeçada. Foi esmagado. Não ele, mas os desgraçados a quem prometera a glória ( o habitual) Vazou para os Açores. Masi tarde convenceu os ingleses que gozava de grande apoio popular. Drake, trouxe-o para Portugal com a ilusão de que assim promovia uma revolta que, enfraquecendo Espanha, contribuiria para a glória da Inglaterra. Foi sempre esta a estratégia britância. O nacionalismo português é um fantoche nas mãos da Inglaterra. D. António desembarcou em Peniche. Ninguém o aguardava. Ninguém o aclamou. Correram-no à pedrada por entre vivas a Filipe.
Ponto 3: A emigração, nos tempos que correm, não é emigração. É mobilidade. Liberdade.

ASS: Porco Ibérico

Unknown disse...

Gotika, falas em eleições. Recordo por exemplo que num blog que mandalizei o ano passado, escrevi sobre o voto em branco. Um coisa simples, que serve para mostrar descontentamento e que não é o mesmo que abstenção. Como é um voto, entra nas estatísticas. O resultado é que os partidos ficam às avessas, na expectativa de saberem se a tal percentagem decisiva vai para eles. Afinal é só dobrar o papelito em quatro sem escrever nenhuma cruz nele.

^^c^^

Goldmundo disse...

O voto em branco só funcionaria se lhe correspondessem CADEIRAS VAGAS nas Assembleias. Na primeira fila, frente às televisões.

Mas sim, chegou o tempo do separar das águas.

katrina a gotika disse...

1º, este texto não é extenso.

2º, eu não chamei cobarde ao emigrante; o termo foi usado pelos comentadores. Eu disse que o emigrante *foge*, o que não é mentira, e o que não quer dizer que não tenha toda a razão para fugir.

3º, o país está a fechar, e não está nada no bom caminho, está à beira do precípicio, mas metade (os que estão bem) ainda não se aperceberam de como vive a outra metade e pensam que quem vive mal são só uns poucos. É também por isso que as coisas não mudam (ainda) e eu continuo a pregar no deserto (ainda) mas é como eu digo, todos os dias acorda um.

Gafanhoto disse...

Mestra

Awekenings – “todos os dias acordar um ...”
Que boa campanha para um movimento político!

Um exemplo: Em Espanha, nos anos 90, o desemprego passou dos 25%!
A Espanha tornou-se o país do mundo com maior número de ONGs.
Cidadãos espanhois estão espalhados por todo o lado.
E não foi o “estado” que definiu a estratégia.
(calma! não estamos a discutir modelos de desenvolvimento...)

Os Tuguêses estão no estadio intelectual do Pinóquio – vão atrás de qualquer circo!
Programas de televisão, em horário nobre com padre e cartomante/astologa residente nem no turquemenistão se lembrariam.

Bjinhos & abraços

katrina a gotika disse...

A Espanha é um caso interessante, sim senhor. Ainda hoje, se não estou enganada, tem maior taxa de desemprego do que nós, mas se considerarmos o rendimento das famílias, uma pessoa empregada por família, com o salário mínimo, providencia maior bem estar ao resto da família desempregada/reformada do que um empregado cá nas mesmas circustâncias.
Actualmente eles estão a melhorar, e nós não.
As soluções não se inventam, basta copiar. Alguém por cá é tão mau aluno que nem copiar sabe, ou pior, não quer.