sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Do orgulho e do orgulho

Sempre fui uma pessoa muito orgulhosa em questões de dinheiro. Do género de não deixar que me me paguem uma bica.
Ora, na minha vida cruzei-me com gente muito rica, e toda a gente que conheço tem mais dinheiro do que eu. Até agora, fazia-me espécie que alguém quisesse "pagar pela minha companhia", como se eu fosse o quê, uma cortesã renascentista?... E quantas vezes não me disseram "mas eu só quero a tua companhia e, se não podes pagar, eu pago".
Sentia-me ofendida com isto. Sentia que me estavam a chamar... ora bem... puta.
É por isso que eu digo que certas pessoas nos são postas à frente para a gente ver umas verdades da vida. Penso naquelas pessoas que conheci recentemente. Para quem Tolkien não existe, que não sabem distinguir os Abba da Madonna, que nunca leram a Bíblia e não sabem o que é um nefilim, que, enfim, benza-as Deus, não têm conversa nenhuma. E, no entanto, têm dinheiro. Muito provavelmente, se lhes conheço bem a pinta, são do género de pensar "o cavalheiro paga sempre porque tem obrigação de pagar". Embora tenham dinheiro porque são yuppies provincianas fora de moda (os yuppies eram dos anos 80, hello!!!), cercam os cavalheiros com a sua conversa fútil e os seus esforços vãos de serem iguais à capa da Cosmopolitan, e ainda os fazem pagar pela seca descomunal.
Serei uma cortesão como Bianca, a amiga de Marius que o vampiro de Anne Rice traz para a imortalidade devido a serviços prestados? Não o serei. Tenho mais fama de ser eu a levar as pessoas para as trevas. Facto do qual me orgulho.
Mas depois do que vi, tenho pena dos ricos que têm de aturar estas melgas caça fortunas. E sendo orgulhosa como sou, e percebendo agora que a minha companhia tem de facto uma mais valia insuspeita (meu Deus, como eu estava a ser modesta comigo própria!!! *bate com a cabeça na parede*) a partir de agora vou aceitar que me paguem coisas. Direito reservado só a alguns. Aqueles que me merecem.

Vi uma luz que nunca tinha visto antes e desta vez não era o isqueiro.

Por orgulho, declaro oficialmente que a partir deste momento há liberdade para me oferecerem coisas sem que isso me ofenda. Declaro oficialmente que o faço por ter percebido que as pessoas precisam de mim e eu não tenho os meios para estar lá. Declaro oficialmente que não vou recusar-me a dar aos outros aquilo que a vida me deu a mim e a mim apenas.
Declaro também que vai custar como o raio aceitar seja o que for por estas razões. Medidas para ir implementando no meu reino, mas com cautela.

7 comentários:

Vampiria disse...

O meu trabalho permite-me lidar diariamente com muita gente com dinheiro e acreditem, passei rapidamente a detestar ricos. Porque ser pobre não é tão mau quanto ser-se pobre de caracter e muitos dos ricos que conheço são isso mesmo - pobres.

Se querem pagar - que paguem! LOL, às vezes eu pago, às vezes pagam-me, e nao é deixar de ser orgulhoso, é ser-se simpático.

I Am No One disse...

Ainda bem que não era o isqueiro.

Anónimo disse...

Pagar uma bica, um almoço ou jantar a alguém que não pode, mas que a sua companhia é das melhores que pode haver ultrapassa o valor de qq coisa. Eu nunca chamaria a isso comprar a companhia duma pessoa...apenas seria se a pessoa que não podia não quisesse estar comigo e eu a obrigasse, pagando tudo o que ela quisesse.
Acredita, sei o que isso é...querer estar com alguém que também quer estar comigo, mas por orgulho não estar. É uma dor imensa, não só para mim como para a outra pessoa. Portanto, há situações e situações e é preciso ver as que valem a pena.
E falo isso porque também já estive no lugar do pobre. Sei o que é passar fome, sei o que é não estar com os meus amigos pelos simples facto de não ter dinheiro e ser orgulhosa demais para aceitar o deles, mas também conheço a dor das duas partes quando o dinheiro separa uma amizade.

Ant disse...

Às vezes estas descobertas parecem pequenas e inúteis. Entendo perfeitamente que cada pessoa tem um tempo para descobrir o que para muitos são evidências.
Parabéns e goza a tua nova luz

Lord of Erewhon disse...

Grande texto, caríssima... e que alquimia da alma não terá sido necessária para tamanha mudança... Mas não te martirizes por isso... por dentro estamos todos a apodrecer... e não há luz no mundo!
Como todos os gajos, suponho... já paguei copos, jantares, etc, a «putas»... mas nunca disso extraí qualquer lucro... a não ser, talvez, a reconfirmação de que adoro a limpeza, a pureza e o brilho da água!
P. S. As secas, essas sim, são mesmo fodidas!

Dunyazade disse...

Estás sem cheta, não é? :P

Lord of Erewhon disse...

Foste desafiada! Clika: http://gothland666.blogspot.com/2006/02/seis-pecados-imortais-e-um-pecado.html