sábado, 12 de fevereiro de 2005

Estranhos

Já não condeno as pessoas por não me compreenderem. Esse tempo já passou. Às vezes gostava que não tentassem compreender porque não acertam, e isso perturba-me. Tem-me perturbado muito nos últimos tempos. Não me refiro ao blog. Refiro-me a pessoas que me conhecem e tinham obrigação de me conhecer - e não conhecem. Porquê? Porque não me conhecem? Se sabem tudo sobre mim, porque não me conhecem? Será desinteresse, será preguiça? Será culpa minha? Muito provavelmente.
O que é que eu tenho de tão secreto? Falarei demais? Impedirei as pessoas de fazerem perguntas? Ou será apenas aquela sensação tão bem conhecida da infância, em que havia aquela distância entre mim e as outras crianças e os adultos eram demasiado crescidos? Aquela sensação familiar de ser muito crescida para a idade e de ter pouca idade para os crescidos?
Continuarei a ser invejada pelos mais novos por ser admirada pelos mais velhos? Como por ter "muito bom" na redacção da 4ª classe?
Mas não percebem como estou perdida no meio, e sozinha? Não, "sozinha" é uma palavra demasiado banalizada. "Isolada" é mais o caso.
Lembro-me que na adolescência tentei explicar aos da minha idade exactamente o que se passava, e o que sentia, mas verifiquei que a falta de experiências não os deixava perceber. Hoje algumas pessoas chegam ao sítio onde eu estive há 10 anos e dizem-me "Vê lá, estou aqui". E eu digo: "Também estive aí". Depois descrevo o lugar.
Depois percebem que "estou além". O que não percebem é que também estou "aquém" de qualquer lugar.
Fiquei perdida. Entre mundos.

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