quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Encomendas avulsas

Reparei que não tenho escrito nada de jeito. Ou melhor, que não tenho escrito mesmo nada. Está frio, eu prefiro hibernar. Nos últimos dois dias dormi umas vinte horas. Definitivamente, não sou uma criatura do frio. Hoje a temperatura subiu e eu animei. Ah, pois é.
Eu tenho uma teoria de que quem é gelado por dentro não suporta o frio que vem de fora. E eu não sou, de facto, uma pessoa energética.
É engraçado, agora lembrei-me de um senhor, um grande génio, que tinha uma coluna dominical no Diário de Notícias e que morreu há poucos anos... Deve ter sido a única pessoa a dizer-me, quando eu lhe disse isto mesmo ("eu não sou muito energética"), "olhe que não parece!". Penso que era a chama do seu génio que me alimentava. Há pessoas assim.
O que me leva a pensar que Ele leva os que muito ama. Ou os que muito amamos. Os que fazem muita falta.
Podia dizer quem era mas a minha humildade não me permite que cite o seu nome nesta nojeira de blog. Era um homem inteligente e despretencioso, um empresário sem caganças de novo rico e sem apreço ao dinheiro, um homem de trato simples e uma disponibilidade imensa para os outros apesar da sua mente brilhante. Um homem que sabia exactamente o que era importante. Que conhecia as prioridades. Uma perda imensa. Um coração demasiado bom que acabou por bater de mais - ou de menos - antes de tempo.
Chorei no dia em que recebi a notícia.

Mas de que estava a falar? Oh, da minha inactividade.
Já li "Vittorio, o vampiro". E li também "The Vampyre" de John Polidori. Obriguem-me e relembrem-me de escrever sobre ambos. (A preguicite, a preguicite...)
Vi recentemente "O Pianista" - as televisões andaram a poupar umas migalhas para enriquecer a quadra festiva. Claro que perdi os dois filmes d'"O Senhor do Anéis" porque deram... à tarde. (Esta gente é doida.) Mas não faz mal, porque hão-de repetir até à exaustão. Cá os espero.
Por falar nisso, ando a ler "A irmandade do Anel". Estou a achar um tédio. (Não há vampiros...)
E acho que vi outro filme de que queria falar mas esqueci-me.

O meu gato
Mais um capítulo dedicado ao meu gato. Quase um ano depois de ter morte anunciada, o bicho aguenta-se. O veterinário enganou-se. A doença pode ser uma espécie de cancro mas não foi fulminante. E cá está, o meu bichinho.

A tragédia do "marmoto"
Eu queria acreditar que foi uma gralha mas no dia da tragédia passava na RTP1 um rodapé - neste caso, "rodatecto" - que dizia "Sismo e marmoto, XYZ vítimas", ou algo que o valha.
Não podia deixar passar esta.
O "marmoto".
Ora, será o marido da marmota?...
E porquê? Porque não acredito que seja uma gralha. Não é todos os dias que se escreve "maremoto" - assim é que está correcto - como quem escreve "motos nas estarads". Perceberam a gralha? É esta a diferença entre uma gralha e um erro grave. Quanto maior é a raridade com que se escreve uma palavra mais se pensa nela. Principalmente quando se tem a responsabilidade de a transmitir na televisão, all eyes on you.
É grave porque se repete, e repete, e repete. É grave porque não houve um editor mais experiente que desse por ela - ou tivesse tempo de dar por ela.
Falava eu aqui, no outro dia, de mediocridade. É a isto que me refiro. Ao "marmoto".
Já não me vou arriscar a teorizar se se diz "maremóto" ou "maremôto", porque, como dizia no outro dia, também estou a ficar estúpida e já não me atrevo a dizer nada. Mas pelo menos não escrevam "marmoto". Está no dicionário, porra! (Mas podia ser pior, admito. Podiam ter escrito "sismo" com "c", como "cisma", que é outra coisa completamente diferente que quem escreveu "marmoto" também nunca deve ter ouvido falar, muito menos a do Oriente. Eh bien.)
Qualquer dia estamos como os brasileiros que escrevem "foder" com "u" - FUDER - e não percebem, as alminhas, que se o substantivo "foda" se escreve com "o", também assim deve ser escrito o verbo. Pimenta na língua de quem escreve mal os palavrões. Bocage, porra, Bocage sabia escrevê-los!!!
Para finalizar, uma última contemplação - talvez uma nota de terrível hipocrisia. Porque é que insistimos, como as formigas, em permanecer no mesmo formigueiro na esperança de que este não seja feitos em pedaços outra vez?
Como é que se diz que "em Portugal não há uma mentalidade de prevenção" e não há dinheiro para instalar um sistema de alarme anti-sísmico?
Cada vez que ouço estas coisas lembro-me daquela frase tão portuguesa: "coitados de nós quando chegar a nossa vez". Está provado que a zona histórica onde moro vai ao ar, ou melhor, ao chão.
Já pensei em trinta estratagemas para salvar os gatos. Ainda dizem que nós não temos mentalidade de prevenção! Eu tenho. (Nós os portugueses somos muita bons, e ainda melhores condutores, como se prova pela quantidade de gente que cada vez morre menos nas estradas mas fica apenas estropiada.)

Isto lembra-me que também quero fazer uma intervenção política sobre as eleições. Vai ser polémica, aviso já. Mas essa é para ser pensada e não rabiscada como estas linhas de pesar e raiva que aqui deixei hoje, numa noite fria de Dezembro, para alguém ler.

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