segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Poema de Klatuu Niktos


GÓTICA

Dedicado à autora deste blog.




Tu, as muitas cartas do Tarot ainda de rosto
Deitado na toalha sumptuosa de treva
Que é a mesa vil e sangrenta do mundo.
Tu, um fogo de crueldade íntima
Que abre clareiras na floresta uivante
Onde nada, ninguém arrisca já a coragem
De um passo. Tu, a filha sempiterna
Que um dia roubou a roupa à morte.
Tu e o teu cabelo devorado pela loucura.
Tu, que não gostas de ti e, ícone
À dor, escondes no seio um coração
Onde caberiam todas as crianças sem mãe.
Tu, a puta maldita e santa que dormiria
Com o leproso só porque isso é proibido.
Tu, o corpo cansado, a boca ávida,
Tu, os olhos sempre espantados com a morte
E ressurreição do Sol, a alvura da Lua,
A canção da Noite. Tu, a borboleta nocturna,
Tantas vezes fútil, que trocaria a virgindade
Por um vestido, viciada na negra luz
Que a atrai e queima. Tu, és minha irmã.


Klatuu Niktos, 31 de Outubro de 2004, Halloween.


PS: As minhas desculpas por só ter publicado agora
PS2: Qualquer semelhança entre o poema e a realidade é pura coincidência, mas não é isso que importa aqui. A poesia é também imaginação.

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